sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DEUS É TUDO

Al Ammar puxou as rédeas do camelo, parou e olhou sabiamente para Fakik: "Então você quer saber o que é a alma e o que é Deus? Para você saber o que é a alma é só olhar para uma pessoa que não crê em Deus. Assim, saberá também o que é Deus!"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

CONVIVER É VIVER COM TODOS

Al Ammar vislumbrava o sol meio vermelho desaparecendo nas dunas, sobre a mansidão de seu camelo, após várias horas de caminhada. Asafe observava o mestre e sua natural mansidão: "Mestre, o senhor está sempre de bem com todos e com a natureza. Qual é o segredo para viver assim?" Al Ammar consertou o turbante e respondeu-lhe: "Todos nós aproveitamos das coisas somente a essência. A maior parte das frutas, jogamos fora as cascas e os caroços. Devolvemos à natureza as conchas e ficamos com o diamante. Deveríamos agir com as pessoas da mesma forma. Deixando de lado as suas imperfeições e guardando somente suas boas ações. Viver abraçado com os defeitos dos outros é deixar de ser um artista na dificil arte das relações interpessoais. Como lhe disse, o verdadeiro artífice joga fora as aparas e as impurezas e fica somente com a beleza da arte. Conviver é viver bem com tudo e com todos!"

domingo, 12 de dezembro de 2010

A ORAÇÃO TEM PODER MILAGROSO

Estava Al Ammar sentado à beira da Mesquita, quando um discípulo se aproximou e perguntou-lhe: "Mestre, qual é o poder da oração?"
Eis a resposta: "A oração tem o poder do tamanho de sua fé. A extensão do deserto depende de cada pequenino grão de areia. Todo o universo está entrelaçado de minúsculos corpos. Quando estiverdes em estado de oração, num lugar separado, onde ninguém possa vos incomodar, dirigis ao vosso Eterno com toda a vossa alma e vosso coração. É aí o lugar do tabernáculo do Altíssimo. Levai vosso pensamento aos confins do cosmo. Pensais que não sois capaz de responder as mais simples perguntas: quem eu sou? de onde vim? para onde vou? qual a origem do mundo? Percebeis que sois uma existência nas mãos do Eterno. Entregai a Ele todas as vossas dúvidas e vossas perguntas. Pedi a Ele o suprimento de todas as vossas necessidades. Rogai pelos que sofrem. Sabeis que a riqueza não é só ouro e prata. É também a paz, o amor, a felicidade. Se tiverdes a fé, do tamanho de um grãozinho de areia, herdareis a bênção do Eterno!"

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A FORTUNA ESCONDIDA

Um velho mercador enriqueceu vendendo pérolas. Vendia suas jóias desde a Pérsia até Luanda. Quando faleceu deixou por escrito um testamento estranho. Para o filho mais novo, Amin, que sempre foi um irresponsavel, ficou uma loja muito grande, numa próspera cidade.
Ao filho do meio, Assef, que era um sonhador, coube um enorme oásis. Ao filho mais velho, Ahmed, que fora devoto e dedicado ao pai, inclusive o ajudara a ficar rico, restou uma imensa espada e um escudo pintado de verde e pesado como chumbo. Ficou muito revoltado. Guardou aquelas lembranças do velho e foi trabalhar como operário de uma joalheria de um dos antigos clientes de seu pai.
Passaram-se anos. Uma terrivel guerra e a incapacidade de Amin, levaram-no à extrema pobreza. Um tornado se levantou do além e carregou para os abismos o Oásis de Assef e com ele seus sonhos, poemas e delírios.
Ahmed, o mais velho, contando as últimas notícias para sua esposa Sarah, desabafou: "Papai não deixou nada para nós. Todos perderam tudo e vou jogar fora estas peças verdes e pesadas que ele me deu. Jogou os objetos pela rampa de uma pedreira. O escudo fez um barulho rangente e a espada quebrou-se no meio. Por espanto seu, viu que a mesma brilhava nas extremidades quebradas como mil sóis. Assim descobriu que seu pai Farid lhe deixara uma fortuna fabulosa. Não era como pensava simples artefatos de chumbo.
Procurou um vidente para relatar o fato e este aconselhou-o: "Seu pai foi sábio e justo. Antes você só tinha a experiência de vender. Agora adquiriu a de confeccionar. Aprendeu a trabalhar jóias com as mãos. O trabalho manual enriquece a alma. Faça com esta espada centenas de artefatos, anéis e brincos de ouro. Ficará riquíssimo em pouco tempo.
Os anos passaram como os corvos passam pelo céu. Uma tribo vizinha entrou em guerra com sua cidade.
Ahmed enterrou todos os seus pertences no fundo do quintal e fugiu com Sarah até que o conflito passasse.
As fileiras inimigas sitiaram a região e o nosso herói acabou preso. O general chamou-o à sua presença e pediu que mostrasse os seus pertences. No meio estava o escudo verde, o único que ele não enterrara.
Lembrou-se que o vidente lhe pedira que não deixasse ninguém tocar em seu escudo.
Ahmed gritou: " Não toquem em meu escudo de ouro! " O general sorrindo, ordenou: "Soltem este rapaz, ele é inofensivo. Nenhum homem normal andaria com um escudo destes, todo verde, pensando que é de ouro e sem uma espada no meio de uma guerra. Dêem-lhe comida e deixem seguir seu caminho com sua esposa, que deve ser mais louca do que ele! Com as vertigens de sua mente poderá lutar empunhando sua espada invisível e seu escudo de ouro verde, contra as feras do deserto! "
Ahmed pensou: "Se há outras feras, só o Eterno Deus sabe. Pelo menos a esta eu venci!"
Durante sete anos aprendeu a trabalhar a oração e a meditação, na localidade onde se alojou, com um grupo de sábios que ali residia.
Quando a guerra terminou, voltou para casa com Sarah. Chovia muito, um velho todo de branco, herdeiro da sabedoria essênia os esperava na porta da cidade e lhes disse:
"A água é o início de uma vida nova. Com o verde não se perde a esperança. Com a espada se conquista a vida material e com o escudo o controle interior. Orando e meditando, não há força maligna que possa destruir um homem!"

sábado, 6 de novembro de 2010

JOÃO PAULO II

Esta semana tive saudades de João Paulo II. De repente parecia que ele olhava para mim e sorria. Senti uma paz tão grande que a saudade se transformou em alegria.
Fique com Deus saudoso PAPA de todas as religiões, sejam elas cristãs, ortodoxas, muçulmanas, judaicas, orientais, etc....João de Deus!

O TÚNEL DO TEMPO

Encrustada num vale frondoso, vivia uma comunidde de religiosos. Apesar de toda a orientação que recebiam, possuiam muitas limitações e questões de relacionamentos.
Porém, o que prevalecia era a força de vontade de cada um em progredir no caminho que escolheram.
Suas almas, com todos os problemas do dia a dia, resplandeciam naquele vale, como gotas de orvalho nas pétalas de uma flor, quando se abre ao sol da manhã.
Falecendo um dos mestres da comunidade, Aziz, seu discípulo predileto, não conseguia vencer as nuvens da tristeza, andava chorando e desestimulado.
"Aziz, procure compreender que somos passageiros deste planeta, como voam os pólens das flores para que não se acabe a primavera!" Esta frase do mestre Al Ali, por mais sábia que fôra, não o confortou em nada:
"Nada substitui a falta que ele me faz!"
"Você meu caro discípulo, sente falta dele ou do apoio que ele lhe dava?
Se é dele, lembre-se que o desígnio do fatídico levou-o pelo túnel do tempo; se é do apoio que ele lhe dava, lembre-se de seus ensinamentos onde encontrará abrigo necessário, pois nenhum instrutor da humanidade, se retira deste mundo, sem cumprir sua missão."
Mesmo assim, Aziz continuava muito triste. Al Ali resolveu então dar-lhe seu último ensinamento. Convidou-o a fazer um longo passeio, em uma localidade onde existia uma praia muito bonita.
Sendo que o rapaz gostava de escrever poesias, pediu-lhe que escrevesse um de seus mais bonitos poemas na areia da praia.
"Agora, vamos para as montanhas, você vai gostar de ver lá de cima o vale serpenteando aos seus pés."
Vários dias depois, voltaram para a beira mar: "Aziz, onde está o poema que você escreveu?"
"As ondas do mar, o vento e o tempo o apagaram!"
"Escuta, meu filho, poderia a natureza parar o seu curso por causa dos seus versos, por mais bonitos que fossem?"
"Claro que não!"
"Onde você tem seus versos agora?"
"Em minha mente!"
"Antes de escrevê-los, onde eles estavam?"
"Em minha mente!"
"E antes de sua mente, onde eles estavam?"
"Provavelmente na mente cósmica do universo!"
"Assim também ocorreu com o seu mestre. Ele sempre existiu, embora pense que ele só existia para você. Antes de tudo ele já estava presente como própria energia. A existência não podia parar seu ciclo quando passasse por ele. Olhe como o mar, o vento e o tempo mudaram os seus versos. E veja como nossa vida se transformou com a passagem do seu mestre!"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O RABINO JACOB

Al Ammar estava descansando à beira de um pé de tâmara, quando um discípulo chegou apressado: "Mestre venha depressa que o Rabino Jacob vai dar uma palestra na mesquita!"
A sala ao lado da mesquita estava repleta de gente. Caravanas singraram o deserto e califas com seus emires também vieram para aproveitar a grandeza do conhecimento do Reb. Naqueles tempos os filhos de Abraão não eram hostis entre si, pois não haviam ainda sido tomados pela volúpia do mundo ocidental e nem pelos interesses econômicos, principalmente dos fabricantes de guerras e de armas que são os mesmos atores.
O olhar do Rabino tinha o alvorecer eterno da bondade e suas palavras a sintonia da ternura e da meiguice:
"Então vocês querem saber sobre o infinito? Não existe infinito! Os números não são infinitos como pensam. Infinito é a deformação de um grande conhecimento. Se você for cortando um coisa qualquer em pedacinhos, e vai cortando, chega a um mommento que não tem mais nada para cortar, então sua mente julga que chegou a um ponto de energia inicial e que se continuasse cortando, iria cortando infinitamente...O que você fez foi nada mais nada menos que ir-se desfazendo das sombras materiais de suas ilusões ópticas.... porque na realidade as coisas são uma só! O que acontece é que a mente tem sua última fronteira, porque você está usando sua mente humana! Esta confusão que fazemos com início e fim é a teia do maya que o intelecutalismo cai profundamente nela! Queremos saber como foi o início. Então achamos que tudo vem disto, isto vem daquilo, aquilo vem daquilo e chega a um momento magnânimo que devemos parar porque voltamos ao ponto inicial de nossa pergunta, ou seja: isto primordial de onde veio? Ora, é mais uma ilusão que você caiu nela. A nossa mente para sobreviver no mundo das realidades materiais precisa deste parâmetro de princípio e fim, pois se não o tivéssemos, cairíamos no primeiro despinhadeiro à nossa frente. Só que esta qualidade mental não serve para compreender o todo, o uno. Esta compreensão está além da fronteira aparente usual de nosso raciocínio. Com esta ferramenta comum ficaremos como todos estão confusos diante da ultra realidade. A mesma coisa é a respeito do Eterno, do Uno! Ora, só há UM! Se houvessem dois, a primazia caberia ao primeiro, pois não poderá haver um segundo se não houvesse a diferença entre ele e o primeiro. Também não há três, pois só há o UNO! Mas para viver no mundo material precisamos da qualidade somatória, pois caso contrário iríamos à falência total nas compras no mercado mais próximo. O que pretendo passar-lhes que não é a mente e nem a última fronteira da mente que compreenderá a profundeza do UNO e do UNO-VERSO! É só através de um salto quântico que compreenderemos isto! É só no TAO! Mas os caminhos para encontrá-lo são vários! Se o Monte Horeb não pode chegar até a Moisés, Moisés irá até o Monte Horeb! Ou, já que estou aqui: se a montanha não for até a Maomah , então Maomah irá até a montanha!"
Terminada a palestra o Rabino Jacob fez um sinal para Al Ammar chegar até ele: "Para mim é uma honra ver você aqui Al Ammar! Meu pai me contou muitas histórias sobre você. Aprendi muito com elas. Eu não seria o que sou, pois devo muito aos seus ensinamentos! Afinal de contas nós judeus e árabes somos primos! Tivemos um pai comum o Bem Aventurado Abraão!"
Al Ammar olhou bem fixo em seus olhos:"Nós não somos primos não, caro Reb! Nós somos irmãos, porque só um é o UNO!"

sábado, 30 de outubro de 2010

COM GENTE ESPERTA NÃO SE BRINCA, um conto de Adameve El Salem

Um dia o Rei Baaf ordenou a um de seus arautos que convocasse a todos os escritores do reino para comparecer ao seu palácio. Seu objetivo era solicitar a estes intelectuais que escrevessem belas histórias sobre ele.
"Chame também ao sábio AMMAR AL AMMAR, se ele é realmente sabido, fará parte deste evento!"
Reuniram-se todos eles no salão principal. Sobre uma mesa estavam empilhados dezenas de rolos de papiros, penas de pavão da Índia e tinta nankin especial.
"Não podem escrever cada um de vós, mais que uma página elogiando meus feitos e terão toda a manhã para realizar esta nobre façanha! Ficarão famosos, pois elas serão lidas em todos os recantos de meu reino!" Enquanto falava, olhava de soslaio para AL AMMAR, como a dizer: "desta vez você se estrepou meu filho!"
À tarde, após um rico banquete, com toda a corte reunida, se dirigiram ao coreto da praça, onde o povo aguardava ansioso a leitura das histórias.
"Era uma vez um Rei muito sábio, muito inteligente e bondoso..." "Certo soberano dono de uma beleza invejavel..." "Um Rei muito fiel à sua amada esposa Rainha...." "As moedas de ouro que o Rei guardava eram destinadas a socorrer seu povo..."
A Corte enquanto ouvia, vibrava de alegria, com as mãos engorduradas de carne reluzindo os seus anéis de ouro, com suas insígnias referentes a seus cargos. Estavam felizes pois sabiam que desta forma aquele sistema permaneceria para sempre, sem nunca ser abalado e assim poderiam viver na maior riqueza à custa do sofrimento do povo.
"E vós Grande Al Ammar que tendes a ler?"
O Sábio não havia escrito nada. Seu papiro estava em branco, enrolado como o apanhou sobre a mesa.
"Habib, não poderia deixar passar este momento em branco. Leia vós mesmos, as belas palavras que estão escritas neste rolo. Só o mais honesto dos homens poderá ler o que está escrito aí!"
Baaf desenrolou o pergaminho que estava em branco. Começou a gaguejar: "Eu... go...gosto.... mu...mu...muito....do Rei....eu acho acho...acho...que o Rei é bom...." O povão percebeu e começo a rir sem parar. Baaf tomou rapidamente o papiro de suas mãos e disse: "Agora leia de novo meu caro Soberano!". Baaf suava da cabeça aos pés: "Eu......." Ele não conseguia relembrar o que havia inventado anteriormente e o nervosismo embaçou mais ainda a sua memória. O povão ria e vaiava a Baaf e sua corte. AL Ammar entregou-lhe mais vinte rolos em branco e disse para o Rei: "Aqui tem mais histórias sobre você! São páginas em branco e se referem ao seu domínio sobre o povo que passa uma vida em branco, com a barriga vazia, as casas desprovidas de bens de consumo, os filhos sem futuro algum. Se houver uma bela história, que o povo a escreva com a espada em punho!" E saindo apressadamente da praça saudou a Baaf e à sua horrorosa corte: "Maçal El Kheir! Maçal El Kheir! Maçal El Kheir"

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

PARÁBOLA SOCIAL, escrita por Adameve El Salem

Andava o sábio Al Ammar pelas ruas empoeiradas e cinzentas de Al Kibir, esquivando-se entre os mercadores apressados, dançando suas somboras embriagadas sobre os fardos e as pedras, quando se encontrou com seu antigo amigo Assef. "Como vai querido Mestre?" "Devias mesmo perguntar como eu vim e não como eu vou!" Porque?" "Estou vindo da cidade de Acaz e lá passei por épocas terriveis!
"Sim" respondeu Assef "e o que se deu por lá?"
"Então queres saber? Primeiro foram os tempos do leão que precederam o momento da coruja. Então chegaram os dias do rato. No meio deles reinou sobriamente a coruja. Alguns dias após, como por encanto, apareceu o chacal, porém, a imensa águia sobrevoou e consegui escapar de lá."
"Quer dizer", suspirou Assef, "que houve uma proliferação de animais provocando uma tremenda destruição?"
Al Ammar fitou-o com seus olhos do mais doce mel da sabedoria: "vou-lhe explicar a parábola. Quando cheguei àquela cidade, observei de imediato que a injustiça reinava solenemente. Os que possuiam grande riqueza exploravam impiedosamente aos que trabalhavam sol a sol. À beira de seus suntuosos palácios, enquanto lá dentro dormiam o pesado sono de suas gulas, lá fora morriam de fome e desespero seus súditos. Os ricos regavam suas refeições com vinho e os pobres bebiam água suja entre os calos de suas mãos para amaciar pães disputados com ratos e os abutres. Na busca de alimento ninguém sabia quem era mais faminto, se os homens ou as aves de rapina.
Estes foram os dias de leão. Dominava triunfalmente o soberano. À noite sob a bênção do orvalho e os olhos cintilantes das estrelas, reuniam-se os insatisfeitos. Estes aumentavam cada vez mais, enquanto teciam sua rede de conspiração. Esta foi a época da coruja.
Com isto houve uma desestabilização do sistema e o sultão enfraquecido, começou a perder o controle da situação. Iniciou-se saques, roubos, sequestros em toda parte. Neste período dominou a era do rato.
Das sombras e do silêncio das horas sairam os conspiradores e reorganizaram Acaz. Derrubaram a corte e passaram o sabre pelo pescoço dos tiranos. Reduziram os impostos e estabeleceram a igualdade, a fraternidade e a liberdade, conforme nos ensinaram os códigos divinos.
No segredo da verdade reinava a coruja.
Porém, os que se beneficiaram com o velho regime e que acumularam riquezas muito além de suas necessidades, fugiram para cidades vizinhas, alugaram mercenários e cercaram Acaz. Foi o momento do chacal, aquele que ronda as colinas, enquanto dorme o povoado.
Nossos víveres que já eram escassos, começaram a faltar. Os dirigentes consultaram a Távola dos Anciões e Sábios para escolher uma decisão segura.
Eles pediram que reunissem o maior número possivel de folhas secas, madeiras, tecidos e palhas em frente à cidade.
E quando o vento noroeste chegou à surdina, tocaram fogo naquele entulho. A fumaça, como um novelo insuportavel se adentrou pelas fileiras dos mercenários. Guerreiros acazianos fantasiados de bruxas, vinham atrás gritando: nós somos as maldições sobre vós!
Os guerreiros de aluguel acreditando ser aquilo uma verdade, bateram em retirada, enquanto uma chuva de flechas esvoaçando os céus, caia sobre eles. Estes foram os dias da águia. As corujas e as águias estudam nas mesmas escolas dos penhascos e das montanhas!"
Al Ammar e Assef desapareciam silenciosos pelas ruas estreitas do mercado de Kibir, virando mais uma página fascinante do mundo oriental.

domingo, 10 de outubro de 2010

ATENÇÃO: O SÁBIO AMMAR AL AMMAR NÃO É O POETA AMMAR AL ANDALUSI QUE VIVEU NA REGIÃO PORTUGUESA DO ALGARVES(região árabe)-Respondendo a email de um leitor.

OS SONHOS DO REI, escrito por Adameve El Salem

Nem toda a magia da sabedoria oriental, poderia intuir a inquietude do Califa Baaf com respeito a seus sonhos. Mas para quem possuia as pérolas mais finas e preciosas do Oriente, que deslizava em tapetes persas e montava alazões velozes como o pensamento, aquelas noites mal dormidas representavam muito.
No primeiro pesadelo, por assim melhor dizer, o Califa viu-se andando nas ruas, como se fosse um sombra que ninguém percebesse.
Gesticulava e bradava: "Eis o Grande Baaf, o descendente da Casa de Maomé,lech hêk não me vêem? Isa bitrid estou aqui! O Senhor absoluto deste reino!"
Nenhum dos seus vassalos o viam. Passavam por ele como se fossem brisa. Até os cortesãos mais próximos não lhe davam a mínima importância.
Em outra noite, Baaf sonhou que um vendaval impetuoso varrera todos os seus domínios da face da Terra. Smalla Alik!
Numa linda noite de luar,(linda para todos, menos para ele), viu-se multiplicar-se e chegar a vários lugares ao mesmo tempo, onde ele mesmo esperava por ele mesmo e dizia: Maçal el kair, venha Baaf que há muito estou te esperando!
Desesperado convocou os mais famosos adivinhos para decifrar seus sonhos, porém mais uma vez, nenhum deles lhe dava uma interpretação que o acalentasse.
Mais uma vez, Ammar Al Ammar subiu as escadarias do seu palácio para resolver-lhe as angústias de seus sonhos.
"Veja senhor, os teus sonhos são decifraveis como as rotas das caravanas! Todos os sonhos preambulam pelo mundo astral. Quando sonhastes que teus vassalos não te reconheciam, sonhastes com a realidade dos reis, que só detem a simpatia dos povos através do peso do poder. Eles te reverenciam pela opressão que vem de ti e não pela admiração por ti. No universo pensante de seus corações, Baaf não vive nem um segundo.
Quanto ao vendaval, significa que a era dos tiranos está passando. Os povos não acreditam mais nas mentiras dos poderosos e dos usurpadores. Estão tomando consciência de outra realidade. É como se fosse um tufão chegando de surpresa.
Quanto ao terceiro sonho, onde Baaf sempre espera por Baaf em diversas partes, podes ter certeza, que o soberano acordou antes do fim do sonho. Poderia ser assim: Venha Baaf, há muito te espero. Você poderá ser amanhã, melhor do que foi ontem. Todo homem tem dentro de si uma centelha da bondade divina. Este candeeiro suspenso dentro do coração, quando brilha, dissipa e afasta todas as sombras de maldade, transformando por completo este homem!"
Muitas vezes um homem acorda de um sonho, para continuar dormindo nas ilusões da realidade. Allah iêr-hamu!

O CALIFA, AS LUZES E O SÁBIO, escrito por Adameve El Salem

Conta-se que certa vez, o Califa Baaf Sem contemplava da torre de seu palácio, uma linda noite estrelada. Desviando seu olhar em direção ao deserto, viu pequeninas luzes brilharem ao longe.
Nada lhe poderia passar despercebido, principalmente a um homem cujo poder de maldade destroçara caravanas, oásis e vidas; assim muito lhe preocupou aquelas cintilantes luzes.
Intrigado, chamou seu Grão-Vizir e lhe mostrou o estranho aparecimento. "Ora, são apenas os olhos das feras do deserto brilhando na escuridão!" Exclamou seu Conselheiro Mor. Isto não convenceu ao Soberano. Solicitou ajuda a outro ministro: "Vós que sabeis ler o destino nas mãos e nos astros, dizei-me nobre criatura, que luzinhas são aquelas!" "Caro Baaf, são as luzes das estrelas que refletindo sobre as folhas de tâmaras de algum oásis lançam-lhe brindes de louvor!"
Nada disto confortou ao Califa que mandou buscar o Sábio Ammar Al Ammar para lhe desvendar aquelas aparições noturnas.
"Veja meu caro Baaf, são as luzes das mentes dos grandes homens que compoem a Grande Idéia de Justiça e Igualdade, que à noite se reunem para sonhar e idealizar um mundo mais justo, fraterno, livre e igual. Podereis mandar todo o vosso exército destroçá-los, mas jamais os destruirá.
A Grande Idéia é eterna. Ela é a filha mais querida do Amor Supremo. Viaja na barca da consciência, voa nas asas da justiça e no ventre começa sua idealização do germe que será.
Estendei os limites do vosso reino aos sofridos. Não atacai as caravanas do deserto para usurpar suas riquezas, mas levai água e comida aos famintos e aos camelos. Não tirai a vida de ninguém porque não vo-la possa dar. Fazei de vossa corte o salão dos necessitados.
Só assim aquelas luzes se apagarão! Allah Maik!"