Andava o sábio Al Ammar pelas ruas empoeiradas e cinzentas de Al Kibir, esquivando-se entre os mercadores apressados, dançando suas somboras embriagadas sobre os fardos e as pedras, quando se encontrou com seu antigo amigo Assef. "Como vai querido Mestre?" "Devias mesmo perguntar como eu vim e não como eu vou!" Porque?" "Estou vindo da cidade de Acaz e lá passei por épocas terriveis!
"Sim" respondeu Assef "e o que se deu por lá?"
"Então queres saber? Primeiro foram os tempos do leão que precederam o momento da coruja. Então chegaram os dias do rato. No meio deles reinou sobriamente a coruja. Alguns dias após, como por encanto, apareceu o chacal, porém, a imensa águia sobrevoou e consegui escapar de lá."
"Quer dizer", suspirou Assef, "que houve uma proliferação de animais provocando uma tremenda destruição?"
Al Ammar fitou-o com seus olhos do mais doce mel da sabedoria: "vou-lhe explicar a parábola. Quando cheguei àquela cidade, observei de imediato que a injustiça reinava solenemente. Os que possuiam grande riqueza exploravam impiedosamente aos que trabalhavam sol a sol. À beira de seus suntuosos palácios, enquanto lá dentro dormiam o pesado sono de suas gulas, lá fora morriam de fome e desespero seus súditos. Os ricos regavam suas refeições com vinho e os pobres bebiam água suja entre os calos de suas mãos para amaciar pães disputados com ratos e os abutres. Na busca de alimento ninguém sabia quem era mais faminto, se os homens ou as aves de rapina.
Estes foram os dias de leão. Dominava triunfalmente o soberano. À noite sob a bênção do orvalho e os olhos cintilantes das estrelas, reuniam-se os insatisfeitos. Estes aumentavam cada vez mais, enquanto teciam sua rede de conspiração. Esta foi a época da coruja.
Com isto houve uma desestabilização do sistema e o sultão enfraquecido, começou a perder o controle da situação. Iniciou-se saques, roubos, sequestros em toda parte. Neste período dominou a era do rato.
Das sombras e do silêncio das horas sairam os conspiradores e reorganizaram Acaz. Derrubaram a corte e passaram o sabre pelo pescoço dos tiranos. Reduziram os impostos e estabeleceram a igualdade, a fraternidade e a liberdade, conforme nos ensinaram os códigos divinos.
No segredo da verdade reinava a coruja.
Porém, os que se beneficiaram com o velho regime e que acumularam riquezas muito além de suas necessidades, fugiram para cidades vizinhas, alugaram mercenários e cercaram Acaz. Foi o momento do chacal, aquele que ronda as colinas, enquanto dorme o povoado.
Nossos víveres que já eram escassos, começaram a faltar. Os dirigentes consultaram a Távola dos Anciões e Sábios para escolher uma decisão segura.
Eles pediram que reunissem o maior número possivel de folhas secas, madeiras, tecidos e palhas em frente à cidade.
E quando o vento noroeste chegou à surdina, tocaram fogo naquele entulho. A fumaça, como um novelo insuportavel se adentrou pelas fileiras dos mercenários. Guerreiros acazianos fantasiados de bruxas, vinham atrás gritando: nós somos as maldições sobre vós!
Os guerreiros de aluguel acreditando ser aquilo uma verdade, bateram em retirada, enquanto uma chuva de flechas esvoaçando os céus, caia sobre eles. Estes foram os dias da águia. As corujas e as águias estudam nas mesmas escolas dos penhascos e das montanhas!"
Al Ammar e Assef desapareciam silenciosos pelas ruas estreitas do mercado de Kibir, virando mais uma página fascinante do mundo oriental.
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