quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A FORTUNA ESCONDIDA

Um velho mercador enriqueceu vendendo pérolas. Vendia suas jóias desde a Pérsia até Luanda. Quando faleceu deixou por escrito um testamento estranho. Para o filho mais novo, Amin, que sempre foi um irresponsavel, ficou uma loja muito grande, numa próspera cidade.
Ao filho do meio, Assef, que era um sonhador, coube um enorme oásis. Ao filho mais velho, Ahmed, que fora devoto e dedicado ao pai, inclusive o ajudara a ficar rico, restou uma imensa espada e um escudo pintado de verde e pesado como chumbo. Ficou muito revoltado. Guardou aquelas lembranças do velho e foi trabalhar como operário de uma joalheria de um dos antigos clientes de seu pai.
Passaram-se anos. Uma terrivel guerra e a incapacidade de Amin, levaram-no à extrema pobreza. Um tornado se levantou do além e carregou para os abismos o Oásis de Assef e com ele seus sonhos, poemas e delírios.
Ahmed, o mais velho, contando as últimas notícias para sua esposa Sarah, desabafou: "Papai não deixou nada para nós. Todos perderam tudo e vou jogar fora estas peças verdes e pesadas que ele me deu. Jogou os objetos pela rampa de uma pedreira. O escudo fez um barulho rangente e a espada quebrou-se no meio. Por espanto seu, viu que a mesma brilhava nas extremidades quebradas como mil sóis. Assim descobriu que seu pai Farid lhe deixara uma fortuna fabulosa. Não era como pensava simples artefatos de chumbo.
Procurou um vidente para relatar o fato e este aconselhou-o: "Seu pai foi sábio e justo. Antes você só tinha a experiência de vender. Agora adquiriu a de confeccionar. Aprendeu a trabalhar jóias com as mãos. O trabalho manual enriquece a alma. Faça com esta espada centenas de artefatos, anéis e brincos de ouro. Ficará riquíssimo em pouco tempo.
Os anos passaram como os corvos passam pelo céu. Uma tribo vizinha entrou em guerra com sua cidade.
Ahmed enterrou todos os seus pertences no fundo do quintal e fugiu com Sarah até que o conflito passasse.
As fileiras inimigas sitiaram a região e o nosso herói acabou preso. O general chamou-o à sua presença e pediu que mostrasse os seus pertences. No meio estava o escudo verde, o único que ele não enterrara.
Lembrou-se que o vidente lhe pedira que não deixasse ninguém tocar em seu escudo.
Ahmed gritou: " Não toquem em meu escudo de ouro! " O general sorrindo, ordenou: "Soltem este rapaz, ele é inofensivo. Nenhum homem normal andaria com um escudo destes, todo verde, pensando que é de ouro e sem uma espada no meio de uma guerra. Dêem-lhe comida e deixem seguir seu caminho com sua esposa, que deve ser mais louca do que ele! Com as vertigens de sua mente poderá lutar empunhando sua espada invisível e seu escudo de ouro verde, contra as feras do deserto! "
Ahmed pensou: "Se há outras feras, só o Eterno Deus sabe. Pelo menos a esta eu venci!"
Durante sete anos aprendeu a trabalhar a oração e a meditação, na localidade onde se alojou, com um grupo de sábios que ali residia.
Quando a guerra terminou, voltou para casa com Sarah. Chovia muito, um velho todo de branco, herdeiro da sabedoria essênia os esperava na porta da cidade e lhes disse:
"A água é o início de uma vida nova. Com o verde não se perde a esperança. Com a espada se conquista a vida material e com o escudo o controle interior. Orando e meditando, não há força maligna que possa destruir um homem!"

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