Esta parábola não é minha e seu autor pode ter-se escondido atrás das cortinas de um templo rosacruz. Inspirei-me num respeitavel mestre rosacruz da AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis). Talvez tenha sido um rosacruz antigo (Salutem Punctis Triangulum / Alta Pacem), mas vamos conhecê-la ou reconhecê-la, através de minha inspiração.
Existia um homem muito curioso cujo maior anseio era abrir qualquer porta, cadeado ou cofre que encontrasse pela frente. Em suas primeiras tentativas confeccionou uma chave mixa, depois de sorrateiramente acompanhar um chaveiro despercebido, em seu trabalho diário.
Conseguiu primeiramente abrir as portas de sua casa. Com isto aumentou sua curiosidade. Um vizinho de frente. Morava sozinho. Não falava com ninguém. Não recebia visitas. Bom dia e boa tarde nem murmúrio apenas.
Já conhecia sua rotina. Saía bem cedo e voltava à tarde com suas sacolas de marca. Trancava-se e abria-se por dentro um silêncio sepulcral.
Às oito horas entrou por seu portão principal. A porta. Sala magnífica. Peças antigas por todas as partes. Um colecionador voraz. O quarto foi só um giro. Um enorme cofre de no mínimo trezentos quilogramas. Esfregou, esfregou e pronto: abra cadabra! O cofre se abriu reluzindo uns dez milhões em jóias e ouro.
Fechou-o. Trancou direitinho a porta do quarto. Da sala. Do portão.
Andava noturnamente em busca de velhas casas abandonadas. Abriu-as todas. Conheceu-as por dentro cheirando seus passados.
Fez uma viagem internacional e abriu um velho castelo à beira de uma praia ibérica. Sons templários rangeram com as chaves.
Voltou. Comprava cadeados novos e abria-os. Compravava fechaduras novas e abri-as.
Começou a viajar em busca das portas mais bisonhas possiveis. Um casarão medieval. Tentou, tentou e não conseguiu.
Disfarçadamente começou a conversar com os velhos das praças, sobre chaves, portas e seus mistérios.
Um velho lhe falou que entre eles fazia tempo que não vinha jogar dominó, um ancião, ex-ladrão, que possuia uma chave que abria qualquer tipo de porta.
De tanto insistir deram-lhe o endereço do traquina. Desceu a ladeira rodeada de samambaias. No final apareceu uma casinha de telhas cumbucas. De dentro uma voz sussurrou: "Pode entrar! A porta está aberta!". A figura parecia ter ressurgido de um filme de Fellini. Cabeça branca, encurvada. Semblante de profeta. Fora um exímio ladrão. Roubara o cofre do Banco Central!
Depois de tanta conversa, suas mãos trêmulas apresentaram-lhe a chave que abria qualquer tipo de porta: "Foram vinte anos de prisão! Ela está aí como a única companheira de minha vida. Ela e eu fomos fiéis um ao outro! Já estou velho e não sou mais dado a aventuras. Pode levá-la para você!"
Despediu-se do velho, deixando sobre uma mesa uma soma de dinheiro, que daria para ele atravessar a eternidade. Dinheiro era o que não lhe faltava. Além de ter recebido farta herança, era bom aplicador.
Voltou ao velho casarão medieval e nada. Não conseguiu abrir sua porta. Tentou milhares de vezes.
Regressou ao ancião e contou-lhe o fato e ainda reclamou que a chave era falsa. Não confiava em ladrão.
O velho se dispos a ir até ao casarão. Com muita dificuldade entrou em seu carro.
Chegando até ao casarão, colocou a chave na fechadura, deu algumas voltas e pronto! A porta se abriu!
"Como? Eu tentei isto vários vezes e não consegui!"
O velho olhou-o em seus olhos e disse-lhe: "Escute meu amigo, esta chave é a chave de um ladrão e você não é ladrão!"
Meus leitores, feliz o rosacruz da AMORC que propagou esta parábola. A mesma coisa acontece conosco e com muitas pessoas todas os dias. Não adianta você ter um livro sagrado nas mãos. Não acrescenta nada em sua vida você lê-lo e relê-lo literalmente, se não for correlato com ele! Quantas pessoas tem as mesas cheias de bíblias. Dizem que comem nas casas dos pastores, mas perseguem com maldade aos outros, por inveja, sem um mínimo de piedade. Chegam mesmo a levar seus subordinados à doença, ao afastmento do serviço. À tristeza e ao caos da depressão. Mas a mão do Altíssimo os ampara, ao mesmo tempo em que faz sua justiça sobre o torturador.
Se o seu espírito não estiver atrelado ao espírito da palavra viva, as letras serão mortas. Você não conseguirá abrir a porta!
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