domingo, 17 de abril de 2011

O FILHO PRÓDIGO/BÍBLIA/RAÍZES JUDAICAS

A parábola do filho pródigo não se desgasta com as inúmeras interpretações que recebeu. Muitas sãos repetições, não trazem nada de novo. É mister revelar que faz parte da cultura judaica, esta riqueza de estórias mitológicas que transcedem o conhecimento usual, pois elas conduzem o indivíduo a uma reflexão muito profunda da vida.
No caso em que o filho sai da casa do pai e leva a sua herança, não seria mais possível ele regressar como herdeiro. Este filho sai e gasta desordenadamente tudo que levou. Mas no mundo lá fora não encontraria patrão melhor que seu pai. Então ele é filho de um bom pai. Melhor seria invertermos a parábola. Chamá-la de parábola do Bom Pai. Este pai totalmente harmônico e equilibrado, reconheceu naquele filho uma grandeza. Pois, embora ele tenha perdido tudo, ele trazia a experiência de quem conheceu o mundo e percebeu no mundo as suas tragédias. Melhor seria voltar para a casa do bom pai. Se de um lado ele foi perdulário e ficou pobre materialmente, de outro lado ele se tornou rico espiritualmente, pois encontrou o lugar onde estava a verdadeira felicidade.
Uma outra questão interessante. O pai sabia que neste momento nasceria como um verdadeiro pai. Pois o pai se torna pai no momento que de braços abertos recebe seu filho que nasce. O momento do nascimento pode ser qualquer momento, em qualquer idade. O pai compreendeu que um indivíduo necessita da presença do pai. Sem esta presença não se fecha a primeira figura geométrica que é o triângulo. Filho e mãe, sem um pai representativo, mesmo que seja um avô, um tio, etc. costuma não dar certo. Filho e mãe é uma linha reta sem fim. Uma linha que já está reta não apresenta obstáculos de aprendizagem. Nós aprendemos mais, nas curvas, nas entrelinhas, nas vias colateriais, nas saídas dos caminhos.
O pai é o terceiro ponto triangular. O pai oferece a oportunidade da curva. De arriscar outra linha. A nossa relação com o nosso pai é de suma importância para o nosso equilíbrio psicoemocional. É o pai que nos dá o primeiro pontapé, no bom sentido da palavra, para nos mostrar que é necessário conhecer o mundo, experimentar a vida. A mãe, não, não serve para este momento, embora sirva para todos os momentos, seu papel anterior é só possível com ela. Mas a mãe harmoniza com um beijo na hora da partida. Nesta parábola não aparece a mãe. A mãe está representada no fausto banquete que o pai oferece ao filho. Ali estão os seios da mãe, a primeira sopinha e os primeiros alimentos sólidos, que o filho ao mastigar, começa a compreender sua individualidade e sua necessária separação da mãe. O pai se representa como autoridade paternal, no respeito da presença maternal, através da suntuosidade do banquete, vindo pela sensibilidade do feminino. Quando o pai aparece como pai, ele fecha o vértice do triângulo, pois reforça o vínculo familiar e permite uma vereda de volta angular à casa paterna.
O outro irmão apresenta-se na parábola como alguém que não cometeu erro, não abandonou o pai, etc. Inclusive ele fica ressentido por não ter recebido uma festa igual à preparada para o irmão. Não é bem assim, que devemos analisá-lo. A sua ausência de compreensão seria preenchida após, com o contato que teria na convivência com este irmão. A riqueza que a parábola trata, também não é riqueza material. É usada desta forma, para que haja inteligência e esforço de percepção. Trata-se da riqueza espiritual. Esta herança todos nós recebemos em nossos lares. Se nos perdermos no mundano, no corriqueiro, no singular, com certeza nos empobreceremos. A única forma de reabastecermos nossas energias é voltarmos à fonte primordial divina, para reencontrarmos a sabedoria da espiritualidade. Sem este conhecimento profundo do espiritual, nós adoecemos, nos tornamos masoquistas, paranóicos, esquizofrênicos, sádicos e afastamos demais do aprendizado contido no seio familiar e triangular, da mãe, do pai e do desenvolvimento do filho.
Nesta parábola/mito está presente o verdadeiro papel da mãe, do pai e do filho. A família, base da sociedade, é o sustentáculo do indivíduo sadio. Família, nem sempre é necessário, mãe/pai/filho no sentido tradicional. Mas não pode conter o vazio de mãe, ou de pai ou de filho. Seja mãe/avô/tio/parente/filho/tia/avó, etc. mas que não deixe de traçar a geometria triangular, que traz o equilíbrio das inter/relações. Esta volta é sempre representativa quando ficamos mais velhos, mais maduros, e se tivermos uma boa relação com nossos pai, com certeza, teremos uma sólida parceria na solução de nossos problemas cotidianos.

Um comentário:

  1. O bom pai que ama o filho pródigo que volta e é capaz de admirá-lo em sua audácia de ter vivido no mundo e retornado a CASA por amor como livre escolha! Sim, pelo reencontro de pai e filho num momento da jornada rumo à felicidade ...

    Parabéns pela séria e bela reflexão!

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